Tudo Muda 

Vivemos em um eterno processo de mudanças. Tudo muda! O tempo todo. As coisas mudam. A única coisa que não muda é a própria mudança. Contudo, quase sempre, nós resistimos. Desde muito cedo, olhamos as mudanças como inimigas ou destruidoras do nosso conforto. Quando éramos crianças, por vezes, os adultos personificavam um terreno permeado pelo medo, insegurança, gritos ou ausências.

Depois, quando nos tornamos adultos, chegam responsabilidades associadas ao peso de frases, tais como: “comerás o pão com o suor do seu rosto.”. A vida, que deveria ser fluida, vai se tornando pesada com a internalização de inúmeros padrões familiares, sociais e culturais. Dessa forma, seguimos uma vida inteira arrastando correntes de crenças que impedem o florescimento de nossas potencialidades.

No entanto, as mudanças são inevitáveis. E quando conjugadas aos processos internos de resistência resultam em dor e sofrimento. O resultado desse processo é o caos que se instala, obrigando-nos a decidir: retornar ao conforto conhecido ou despertar o próprio potencial para explorar o novo.

Poucas pessoas percebem que a fé em um Criador é fundada na crença em si. Afinal, do que adianta acreditar que existe um Criador e não acreditar na criação? Dito de outra forma: como acreditar em um Criador e não acreditar em si mesmo(a)?

Aliás, não nos disseram que as pessoas são como são. Não nos disseram que existe uma grande variedade de formas de ver o mundo, tampouco que cada pessoa vê o mundo de um modo particular. É certo que podemos escolher viver em relações familiares e sociais como também podemos escolher não conviver. Essas opções, entretanto, não nos impedem de compartilhar conhecimentos, disponibilidades e recursos com as outras pessoas. Convivendo ou não com determinadas pessoas, nada impede o exercício da solidariedade com senso, prudência, alegria e fé.

Além disso, a escolha de abrir a alma para o novo vem associada ao receio de não dar conta do desconhecido. Esse sentimento decorre da crença na existência de um mundo hostil e povoado de problemas. Os problemas, contudo, são apenas construções humanas. Na qualidade de seres humanos e, portanto, dotados de força interna inerente à condição humana, estamos aptos a encontrar as melhores soluções.

Note-se que sempre será possível escolher retornar ao conforto anterior, mas a sensação de vazio decorrente dessa escolha é implacável e rapidamente se instala. Daí a existência de pessoas que, sistematicamente, preenchem a própria existência pela busca de distrações. No entanto, a tentativa de apartar-se da realidade é potencialmente geradora de brechas para a chegada da depressão e, novamente, do caos.

Então, acreditar na própria potencialidade e nas infinitas possibilidades que estão ligadas as escolhas, estas que tanto podem ser escolhas por mudanças ou opções pela paralisia, darão o tom da música interna que ouviremos. 

Aproveitando a oportunidade, sugiro a música Todo Cambia, de Mercedes Sosa, para ouvirmos com a Alma.

Todo Cambia

Cambia lo superficial

Cambia también lo profundo
Cambia el modo de pensar
Cambia todo en este mundo

Cambia el clima con los años
Cambia el pastor su rebaño
Y así como todo cambia
Que yo cambie no es extraño

Cambia el más fino brillante
De mano en mano su brillo
Cambia el nido el pajarillo
Cambia el sentir un amante

Cambia el rumbo el caminante
Aúnque esto le cause daño
Y así como todo cambia
Que yo cambie no es extraño
Cambia, todo cambia
Cambia, todo cambia
Cambia, todo cambia
Cambia, todo cambia

Cambia el sol en su carrera
Cuando la noche subxiste
Cambia la planta y se viste
De verde en la primavera

Cambia el pelaje la fiera
Cambia el cabello el anciano
Y así como todo cambia
Que yo cambie no es extraño

Pero no cambia mi amor
Por más lejo que me encuentre
Ni el recuerdo ni el dolor
De mi pueblo y de mi gente

Lo que cambió ayer
Tendrá que cambiar mañana
Así como cambio yo
En esta tierra lejana

Cambia, todo cambia
Cambia, todo cambia
Cambia, todo cambia
Cambia, todo cambia

Pero no cambia mi amor
Por más lejo que me encuentre
Ni el recuerdo ni el dolor
De mi pueblo y de mi gente

Lo que cambió ayer
Tendrá que cambiar mañana
Así como cambio yo
En esta tierra lejana

Cambia, todo cambia
Cambia, todo cambia
Cambia, todo cambia
Cambia, todo cambia
Cambia, todo cambia

Tudo Muda 

Muda o superficial
Muda também o profundo
Muda o modo de pensar
Muda tudo neste mundo

 

Muda o clima com os anos
Muda o pastor e seu rebanho
E assim como tudo muda
Que eu mude não é estranho

Muda o mais fino brilhante
De mão em mão seu brilho
Muda o ninho o pássaro
Muda a sensação de um amante

Muda o rumo do andarilho
Ainda que isto lhe cause dano
E assim como tudo muda
Que eu mude não é estranho

Muda tudo muda
Muda tudo muda
Muda tudo muda
Muda tudo muda

 

 

Muda o sol em sua corrida

Quando a noite o substitui
Muda a planta e se veste
De verde na primavera

Muda a pelagem a fera
Muda o cabelo o ancião
E assim como tudo muda
Que eu mude não é estranho

Mas não muda meu amor
Por mais longe que eu me encontre
Nem a recordação nem a dor
De meu povo e de minha gente

O que mudou ontem
Terá que mudar amanhã
Assim como eu mudo
Nesta terra tão longínqua

Muda tudo muda
Muda tudo muda
Muda tudo muda
Muda tudo muda

 

 

Mas não muda meu amor
Por mais longe que eu me encontre
Nem a recordação nem a dor
De meu povo e de minha gente

O que mudou ontem
Terá que mudar amanhã
Assim como eu mudo
Nesta terra tão longínqua

 

Muda tudo muda
Muda tudo muda
Muda tudo muda
Muda tudo muda
Muda, tudo muda

 

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Conflitos, Sistemas Familiares e Constelação Familiar

Como sinal visível das mudanças que estão em curso para dar suporte à Nova Estrutura (KUHN, 2017) que surge com a ampliação da consciência humana, aparece a Constelação Familiar: Abordagem terapêutica, percebida por Bert Hellinger ao observar o trabalho de Virginia Satir, Assistente Social e Terapeuta Familiar que criou as Esculturas Familiares ampliando o trabalho de Moreno e outros. Hellinger observou que os representantes traziam algo do representado, mesmo não o conhecendo.

Através de suas pesquisas com um grupo de pessoas que participavam nas representações, Bert percebeu que os sistemas familiares obedecem a três leis que ele chamou de Ordens do Amor e não transmitem sentimentos, apenas existem. Essas leis sistêmicas, Pertencimento, Hierarquia e Equilíbrio entre o Dar e Receber (HELLINGER, 2001), quando em desequilíbrio causam conflito no sistema familiar, fechado.

O Pertencimento atende a necessidade que vem do reino animal quando a exclusão significa a morte. Um animal que é excluído sente que seu destino está traçado. É o que acontece com os leões. Quando o macho envelhece, as últimas crias são mortas ao nascer e ele sente que é o momento de sua exclusão. Um outro leão macho assume a função e ele segue pelas pradarias, para a morte. Para muitos humanos a exclusão tem o mesmo significado: fora do grupo eu morro. Daí, quando um membro do grupo é excluído cria-se um vazio que precisa ser preenchido. E surge uma dinâmica oculta, como a força de um atrator estranho que fica à espreita.

A Hierarquia precisa ser atendida para que todo o grupo fique em segurança. No sistema familiar os pais dão e os filhos recebem. Os pais são os portadores do Fluxo da Vida e passam para seus filhos muito mais do que o direito à vida através de um ato físico quando espermatozoide encontra um óvulo pronto para ser fertilizado. Passam informações, em forma de genes que produzem componentes tais como cor dos olhos, dos cabelos, limite de altura, etc. Os filhos trazem em si, 50% da mãe e 50% do pai. Isto quer dizer que, rejeitar o pai ou a mãe o faz rejeitar a si mesmo. E a hierarquia corrige isto quando é observada.

O Equilíbrio entre o Dar e o Receber, no sistema fechado, precisa ser obedecido sob pena de afastamento e conflito das pessoas envolvidas. Por um motivo: quem dá está em vantagem, por ter algo de que o outro carece, portanto, em situação de superioridade. Já o que recebe é menor, necessita de algo que o outro tem. Seja uma emoção, seja o olhar para si, seja a dependência.

As Leis Sistêmicas, ou como também as chamamos, Forças da Vida, são forças dinâmicas e articuladas que atuam em nossas famílias ou relacionamentos íntimos. Percebemos a desordem dessas forças sob a forma de sofrimento e doença. Em contrapartida, percebemos seu fluxo harmonioso como uma sensação de estar bem no mundo.

As constelações trazem para a superfície as dinâmicas que estão ocultas e são vistas dentro do campo mórfico ou campo morfogenético, que constituiu campo de estudo e investigação do biólogo Rupert Sheldrake. Ele observou que existe, dentro dos sistemas dos animais, um monitoramento. É assim que as aves voam em determinadas épocas para determinados lugares e os pinguins vão para o Polo. Existe um sistema de informação que faz com que estes animais sigam ordens que não têm a possibilidade de ser descumpridas (SHELDRAKE, 2013).

Vivem num sistema fechado.

Sistema é um conjunto de elementos dinamicamente relacionados e que desenvolvem uma atividade para atingir um objetivo ou propósito, operando sobre dados/energia/matéria, colhidos no ambiente que o circunda para fornecer informação/energia/matéria.

A Natureza é composta por sistemas. Nosso organismo é composto por vários sistemas. Dependendo da maneira como os elementos se relacionam entre si e ou com seu ambiente, os sistemas podem ser fechados ou abertos.

O sistema fechado tem poucas entradas e poucas saídas com relação ao ambiente externo. Essas entradas e saídas são bem conhecidas e guardam entre si uma relação de causa e efeito: a uma determinada entrada (causa) ocorre sempre uma determinada saída (efeito). Por esta razão, o sistema fechado é também chamado sistema mecânico ou determinístico. O sistema familiar, fechado, tradicional, é determinístico e foi motivo das observações de Bert Hellinger, criador das Constelações Familiares.

Num sistema familiar fechado, um filho ou uma filha que odeia o pai ou a mãe ou ambos pelo alcoolismo deles, tem elevado percentual de possibilidades de casar-se com um alcoólatra ou tornar-se uma pessoa inflexível em relação à bebida, julgando os que bebem como seres menores ou excluindo de sua convivência os que fazem uso de bebidas alcoólicas. O que aconteceu com este membro que parece ter esquecido o que sofreu com o pai ou mãe alcoólatra e fez o mesmo no caso de casar-se com outro alcoólatra? Ele não percebeu que quanto mais resistia à dor de ter um pai ou mãe que o fazia sofrer, mais ele criava as condições para seu próprio sofrimento por ter sua atenção concentrada no que não queria. O sofrimento o tornou resistente à compaixão. Não troca com o externo, vive sua dor dentro do sistema e não interage e não percebe sua potência. Define-se pelas circunstâncias, ou melhor, as circunstâncias o definem.

Percebemos, no campo sistêmico, que o efeito só acontece quando este membro permanece no sistema fechado, não se abre à compreensão ou à permissão ao pai ou à mãe de serem do jeito que lhes foi possível. Mesmo que tenha trazido sofrimento, a gratidão à Vida que recebeu dos pais deveria ser mais forte do que as condições externas.

No sistema aberto com sua interdependência o julgamento e a crítica destrutiva vão dando espaço para uma outra dimensão que o humano cria: a aceitação da vida e de tudo que dela surgiu da forma como surgiu. E com a aceitação criativa diante dos fatos passados vem a possibilidade de expansão da consciência frente aos atos que envolvem o planeta e as próximas gerações. É o que expressa Hans Jonas “Aja de modo a que os efeitos da tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma autêntica vida humana sobre a Terra” (JONAS, 2006, p.47).

Sair do sistema fechado para o sistema aberto exige consciência de si, da Natureza, e o reconhecimento de que somos todos viajantes da mesma nave e com os mesmos direitos de transitar entre os saberes e sistemas.

Para saber mais sobre o assunto, confira o livro “Conversando sobre Constelação Familiar na Justiça.”, coordenada pelos autores André Tredinnick e Juliana Lopes Ferreira e publicada pela Empório do Direito, editora Tirant Lo Blanch, com lançamento no dia 03 de outubro de 2019.

 

REFERÊNCIAS

BERTALANFFY, Ludwig von. Teoria Geral dos Sistemas: fundamentos, desenvolvimento e aplicações. Tradução: Francisco M. Guimarães, Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

COMTE-SPONVILLE, André. Pequeno Tratado das grandes virtudes. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

FERREIRA, Juliana; TREDINNICK, André. Conversando sobre Constelação Familiar na Justiça. São Paulo: Tirant Lo Blanch, 2019.

HELLINGER, Bert. Ordens do Amor: um guia para o trabalho com constelações familiares. Tradução: Newton de Araújo Queiroz, São Paulo: Cultrix, 2001.

JONAS. Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro, Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2006.

KUHN, Thomas S. A Estrutura das Revoluções Científicas. Tradução: Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira. 2ª edição. São Paulo: Perspectiva, 2013.

SHELDRAKE, Rupert. Uma nova ciência da vida: a hipótese da causação formativa e os problemas não resolvidos da biologia. São Paulo: Editora Cultrix, 2013.

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SISTEMAS E INCLUSÃO

Estamos num momento histórico no qual alguns comportamentos tidos como natural começam a ser questionados provocando mudanças, nem sempre entendidas pela maioria e que entram numa rota de difícil retorno.

A conquista pelo voto feminino, os direitos humanos, tudo que saia da normalidade do já estabelecido, foram anomalias no início. Anomalia que, segundo Thomas Kuhn em sua obra A Estrutura das Revoluções Científicasé uma violação as expectativas paradigmáticas que governam a ciência normalTrazendo o mesmo conceito para o desenvolvimento da sociedade humana, violar as expectativas de uma sociedade patriarcal é o caminho da evolução da mesma. Assim, as mulheres começaram a conquistar um lugar na estrutura social.

O embate pela implantação dos Direitos Humanos e pelo respeito à Natureza, a inclusão dos chamados “diferentes” entre outras anomalias ensejam mudanças, no início imperceptíveis, que abrem caminho nas fraturas do sistema em vigor que já não responde aos anseios da Alma humana. É o surgimento de uma Nova Estrutura, que é composto do que antes era considerado uma anomalia e que será a base do novo modelo paradigmático.

A exclusão sempre foi um recurso usado pela humanidade para não entrar em contato com o diferente, com o que não cabia na interpretação de um mundo resultante de um sistema rígido, de hierarquia verticalizada, escorada no sagrado, no misterioso. Os loucos, os deficientes, os questionadores, eram excluídos do sistema.

Assim como na Natureza, tudo segue um fluxo de desenvolvimento. É assim no nascimento das sociedades e na evolução do conhecimento.  A aceitação das anomalias que surgem como indicativos de uma nova rota não se dá com facilidade, exatamente pela rigidez dos sistemas de primeira camada onde a humanidade ainda se vê como descolada da Natureza, como se fosse o centro onde a sua verdade impera. Os sistemas de pensamento criado pela Natureza humana de querer conhecer segue uma lógica que é atravessada pelo criacionismo que a impede de avançar sem culpas e a mantém sob controle.

Tendo a saga humana como origem a desobediência e a expulsão do paraíso, a partir daí tudo que não é “perfeito” seria consequência. A exclusão dos efeitos seria o caminho natural para não “ver” o pecado original. Para não ver a si mesmo como o gerador do sofrimento, do embate entre a queda e a ascensão, o retorno ao paraíso e a realidade do inferno. A única forma de seguir em frente seria “fazer de conta” que existe um padrão de comportamento, de estar no mundo, que deve ser seguido por todos. É o salvacionismo sendo introduzido na mente coletiva.

Charles Darwin e a Evolução da Espécie e Seleção Natural observada no reino animal traz uma nova informação que junto com os estudos dos cosmólogos nos tira o chão seguro e infantil da criação em sete dias, mas sem deixar que tudo tenha sido apenas um acaso. A Vida ocupa o tempo de muitas mentes que se dedicam a buscar respostas para perguntas sobre como o mundo foi criado, o que é Vida e outras mais. Muitas hipóteses formuladas e que avançam com as pesquisas de muitas mentes em muitos lugares que valorizam e financiam as pesquisas.

Com o avanço da ciência vamos desvelando a relação da Natureza e o Ser Humano e vendo nesta interação a responsabilidade individual com o planeta e com os seus habitantes. Para percebermos que toda a diversidade reafirma a grandeza humana precisamos sair dos padrões construídos nos sistemas onde a interação só acontece entre elementos do mesmo sistema. São os sistemas fechados que não trocam informações com o exterior. Seguem mantendo o mesmo do mesmo. Quando apresentam alguma novidade é sempre o avesso do avesso.  Este padrão foi satisfatório num momento histórico construindo bases e ferramentas que possibilitaram a extensão e qualidade de vida na terra.

Um exemplo entre tantos outros foi o surgimento da água encanada e esgoto. Na Grécia antiga, já havia a preocupação com a saúde e criaram o costume de enterrar as fezes ou deslocarem para um local bem distante de suas residências.

Já os sumérios originaram a construção de sistema de irrigação de terraços e os egípcios iniciaram a construção de diques e a utilização de tubos de cobre para o palário do faraó Keops.

As primeiras galerias de esgoto da história foram construídas em Nippur, na Babilônia. O Vale do Indo e suas cidades são conhecidas pelos planejamentos urbanos e sistemas de abastecimento e drenagem elaborados para época mas foi o Império Romano que primeiro tratou o saneamento como política pública, tendo construído grandes aquedutos, reservatórios, banheiros públicos, chafarizes tendo inclusive criado um cargo com o interessante nome de Superintendente de Águas de Roma.

Mas não tinham um olhar para os diferentes. Só existia um padrão, o do homem romano.

Quanto mais a ciência foi avançando mais evidente ficou a igualdade entre os seres humanos e o valor de todos os seres viventes. As ciências médicas e biológicas adentraram nas células e não viram diferenças moleculares entre negros, brancos e índios.

Em relação aos seres viventes, descobriram que tanto a forma mais rudimentar de vida quanto os organismos mais sofisticados têm funções específicas na manutenção do equilíbrio na Natureza.

À medida que foi desvelando a Natureza, os mitos se dissiparam e a ciência entrou nos intrincados mecanismos que tornam possível a homeostase, que é a busca do equilíbrio pelos organismos. O termo homeostase, do grego homoios, o mesmo, e stasis, parada, foi criado por  Walter Bradford Cannon, fisiologista e médico norte-americano, conhecido por uma série de investigações experimentais no processo de digestão, no sistema nervoso e em mecanismos reguladores do corpo, e não se referia a uma situação estática, mas a algo que varia dentro de limites precisos e ajustados.

E à medida que o conhecimento vai avançando, individual e como sociedade, a forma de organização também vai se transformando. É a busca pela homeostase do conjunto de humanos que está inserida num conjunto maior chamado seres viventes.  E o que era aceitável passa a ser inadmissível.

Mas não é sem reação que acontecem as mudanças nos sistemas e na consciência humana. A evolução do conhecimento é lei a ser seguida. E do mesmo jeito que após a alfabetização torna-se impossível o retorno a condição anterior, também na alma humana, à medida que a ciência avança e a consciência tem mais recursos para avançar no conhecimento, nasce na Alma humana o desconforto com o padrão existente. E surgem pessoas que falam sobre o desconforto e buscam uma melhor forma de agir. São os ativistas, os que primeiro expressam o próprio desconforto com a forma como as relações, sejam com as pessoas, com os animais ou com o meio ambiente, acontecem. O desconforto se dá pela visão mais ampliada em direção ao outro. Tornam-se porta-voz do inconformismo. Assim caminha a humanidade.

Para a homeostase civilizatória é necessário o equilíbrio da sociedade. E este equilíbrio acontece quando as comunidades abrem seus sistemas e passam a trocar, incluindo todos em todas as partes. Incluir é apenas o início de um processo cujo destino não é a aceitação da diferença, mas a quebra das barreiras que separam os seres humanos. É a não distinção entre as várias formas de estar no mundo.

E a forma de estar no mundo varia ao infinito. Assim como toda forma de amar deve ser vista como natural, toda forma de estar no mundo também deve ser visto com naturalidade. Os recursos a serem disponibilizados para os que sofrem por não conseguirem comunicar a sua forma de ver o mundo estão (ou já foram) criados com a ajuda da tecnologia. Falta aperfeiçoamento e, principalmente, acessibilidade.

Hoje a linguagem libras ainda não está disponível a todos em todos os rincões do país. E quando a ciência chegar ao modelo ideal para a correção da visão com a implantação de chips ou coisa equivalente? Será para todos ou para os providos de recursos financeiros? O Estado continuará a ser um Estado arrecadador ou se tornará um Estado Cuidador onde o cuidar passa a ser um valor jurídico?

O mesmo vale para todo o tipo de “deficiência”. Quem tem presbiopsia, distúrbio da visão que ocorre aproximadamente aos 45 anos, em que, por perda da elasticidade e do poder de acomodação do cristalino, o indivíduo não percebe mais com nitidez os objetos próximos, o que o senso comum chama de  vista cansada, tem acesso a óculos para continuar mantendo qualidade de vida?

Incluir exige ações que virem políticas públicas. Para tanto, é preciso que a sociedade civil se mobilize para encaminhar propostas concretas e, muitas vezes, já testadas, que produzam uma sociedade mais justa e igualitária.

Dar voz aos que vivem a exclusão, é o caminho. São eles que conduzirão o olhar daqueles que sabem de exclusão apenas na teoria.

O Seminário de Inclusão é a forma pela qual a Práxis diz: Presente!

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Ambição ou Ganância?

Uma boa parte das pessoas tem medo de ser classificada como ambiciosa. É como um rótulo moral, fora dos bons sentimentos, que faz com que a pessoa se sinta julgada como alguém egoísta, utilitarista, perigosa.

Busca-se, de muitas formas, transformar a ambição em piedade, caridade, para escapar do monstro de querer algo a qualquer custo.

Mas o que é ambição? Segundo o senso comum, é querer alguma coisa sem medir consequências. Será?

Ambição é matéria prima na construção pessoal e social. No âmbito pessoal, a ambição impulsiona para buscar atingir um objetivo. O objetivo é que dirá se é ambição.

Ambição caminha na estrada do desenvolvimento, mas pode, em determinando momento ir para um atalho que não tem saída, que não desenvolve que vai bater num muro que divide o ser do não ser. E neste desvio a ambição ganha outro nome: ganância.

Ambição é filha da evolução e ganância é filha direta do egoísmo.

Ambição coloca-se a serviço do outro, ganância serve a si mesmo e ao atraso. Ela circula em torno de si e provoca estagnação. Acumula, não compartilha, e quanto mais tem mais quer. Para nada fazer. Quem acumula, seja dinheiro, potes, garrafas ou conhecimento é movido pela ganância. A coleção precisa ser cada vez maior.

Ambição é o anseio constante de alcançar determinado objetivo. Ganância é ânsia constante de ter cada vez mais, para si. O ambicioso ao alcançar determinado objetivo amplia seu campo de visão e quer o que ainda não é visto. O ganancioso ainda não alcançou e já quer o que ainda não é visto.

Sem ambição não existe ganância. Mas com ganância é possível que a ambição fique de lado por não ser mais necessária. Uma coleção de pratos começa com a ambição de ter um prato, mas logo vai para o desvio e a coleção de pratos cresce. Para que? Para ser colocado na parede da sala.

A ganância busca preencher um vazio existencial. E como todo vazio da alma, torna-se um buraco sem fundo. Daí o ganancioso querer sempre mais e mais, para si.

Ambição está a serviço do desenvolvimento da criatividade. Sem a ambição de conhecer a natureza a ciência não existiria. Sem a ambição de conhecer o funcionamento do cérebro humano, a neurociência também não existiria. E o que dizer das teorias psicanalíticas? Sem a ambição de conhecer a mente humana como estaríamos em nossos conflitos existenciais?

Sem esta alavanca chamada ambição estaríamos vivendo nas cavernas, a regida pelos instintos, para a sobrevivência e perpetuação da espécie. Com o surgimento da ambição sair das cavernas foi natural e a humanidade criou agrupamentos chamados de tribos que com o passar dos séculos foi transformado em impérios que cedeu espaço para a constituição de Estados. E hoje, muitos ambicionam e trabalham para um mundo regido pela Ética da Solidariedade enquanto os gananciosos lutam, desesperadamente, para manter estruturas antigas que alimentam o egoísmo e a sede de poder.”

Que todos tenham ambição, nos níveis pessoal e social, para que todos os seres viventes sejam respeitados, para que a Vida seja o Bem Maior e todos se tornem cidadãos construindo uma sociedade mais igualitária e solidária.

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Por que é tão difícil decidir?

Muitas pessoas passam pela vida como se pedissem desculpas por estar aqui. Não percebem as grandes oportunidades de crescimento que as dificuldades produzem e, por não perceberem, se recolhem na timidez, no medo, na auto sabotagem. Não se lançam na vida pelo medo de assumir sua própria vida.

No trabalho, obedecem as ordens cegamente, tornando-se apenas uma peça na manutenção da máquina já conhecida. Se algo muda elas se perdem completamente. Podem até adoecer quando aparece um processo de mudança ou caso exista uma necessidade premente da organização em buscar novos mercados, muitas vezes como questão de sobrevivência. Sentem-se alijadas do processo, interpretando, muitas vezes, como uma perseguição, como uma punição à sua dedicação. Dedicação que se efetivava na profunda obediência a regras e normas estabelecidas.

Na vida afetiva o medo aparece e as tornam pessoas pálidas, sem vida. Mesmo que sejam aceleradas.

E porque tanto medo em tomar decisões?

Decisão de colocar para seu chefe que existem outras formas melhores para chegar ao mesmo resultado e, se não ouvido, buscar outro lugar onde possa exercer sua criatividade. Imediatamente vem o receio de ser mal entendida e colocar o emprego em risco.

Decisão para mudar a forma de comunicação existente no grupo emocional. Imediatamente vem o receio de ser mal entendida e colocar o afeto em risco. Tem medo de perder pessoas, como se proprietárias fossem, mesmo sendo infelizes e carregando frustrações e desencantos.

Decisão para buscar atividades complementares e que permitam uma realização existencial ou espiritual. Imediatamente vem o receio de não ter tempo para atender as necessidades dos outros.

E o que é realmente DECISÃO?

Para o filósofo grego Aristóteles, decisão é “o momento conclusivo da deliberação no qual se adere a uma das alternativas possíveis (…) uma apetição deliberada referente a coisas que dependem de nós.” Para se tomar uma decisão é preciso que tenha sido observada as alternativas possíveis, tenha sido examinada a situação que produz algum tipo de conflito ou desconforto e se busque a cisão, se promova a ruptura e mude o rumo dos acontecimentos.

E a dificuldade existe porque, muitas vezes, temos o novo caminho como ameaçador pois ele irá desarticular uma parte de nosso sistema de crenças, de nossos valores, de nosso comodismo. Teremos que formular novas perguntas, nos defrontarmos com novos problemas e buscarmos novas soluções.

Karl Popper, filósofo austríaco, formulou uma interessante equação que mostra como se dá o crescimento do conhecimento humano e que pode ser utilizado também para o crescimento organizacional e existencial.

Escreveu ele que quando temos um problema P elaboramos uma Teoria T para resolve-lo, buscamos Eliminar os Erros da teoria e chegamos a Solução que por sua vez trará novos Problemas.

P->T->EE->S¹->P²

Assim como uma organização precisa estar aberta para perceber os novos problemas que surgem dentro da sua rotina e que, muitas vezes, estão presos ao desrespeito aos que vieram antes, também os funcionários precisam estar atentos na sua relação com tudo e com todos para evitar que o seu medo de crescer impeça o crescimento de todos. E, principalmente, o seu crescimento profissional, emocional e espiritual, num mundo em crescente velocidade de transformação e mudança.

É preciso estar em constante movimento para acompanhar o movimento da própria Vida e não correr o risco de, saindo do fluxo das águas do rio existencial e social, tornar-se uma poça de águas paradas, com uma população de parasitas emocionais e econômicos, fora do sistema evolutivo pessoal, econômico e social, transformando-se em pessoas e organizações que estarão fadadas a estagnação e/ou desaparecimento.

A decisão de crescer, de progredir, de evoluir, implica olhar sistemicamente e escolher fazer a cisão com a estagnação e ousar buscar novos caminhos, novos rumos, novos problemas e novas decisões.

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